A sua vida amorosa está um pouco desajustada?
Não se preocupe demais. Isso é natural, e acontece com todas nós – e, se não acontece, é provavelmente porque não temos uma vida amorosa, ou porque ela é meio entediante. A satisfação romântica exige uma certa dose de desajuste, diziam os sábios, e quem somos nós na fila do pão para discordar das grandes mentes pensantes?
Mas, ao mesmo tempo, é verdade que a irregularidade excessiva é um mal, e que o melhor é encontrarmos aquele equilíbrio ideal (ou quase ideal, porque sejamos sinceros: o ideal você não vai encontrar nunca) que nos leva a estabelecer, a manter e a aperfeiçoar relacionamentos serenos, saudáveis e prazerosos.
E, uma vez que ninguém nasce sabendo absolutamente nada – isto é, se você quiser levar em conta a perspectiva empirista; deixemos os racionalistas para lá –, e que só a prática, a experiência e o conhecimento que adquirimos ao longo do tempo nos ensina o que quer que seja, estamos aqui para oferecer a você alguns conselhos românticos que, aliados aos seus talentos e encantos pessoais, a levarão a atingir a plenitude nessa área tão linda e complexa da vida.
Porque o amor eterno existe, minha querida amiga. Mas, como disse Nelson Rodrigues, nós estamos nos referindo a uma eternidade especial que, se mal cultivada, pode durar seis meses ou até quinze dias.
Quer investir na sua vida amorosa? Continue com a gente.
Quando estamos apaixonados, é normal nos sentirmos consternados, estarrecidos, talvez um tanto preocupados e mesmo infelizes – em geral tudo ao mesmo tempo.
Isso tende a acontecer especialmente no início de um relacionamento, e são sentimentos que costumam se suavizar conforme o tempo passa. Mas, se vocês dois estiverem de fato apaixonados, ou apaixonadas, jamais estarão imunes de lampejos súbitos de infelicidade.
É importante nos lembrarmos, no entanto, de que existem dois tipos de tristeza relacionada à vida amorosa: a natural e a indesejável. A natural resulta do fato de que a complexidade de um romance implica em algum desconforto, ao passo que a tristeza indesejável é aquela que prenuncia o final de um relacionamento, e tende a ser fruto de disposições incompatíveis ou de uma maneira de agir inaceitável da sua parte ou da parte da pessoa com quem está.
Existem exceções? Imagino que sim, e dê-se por sortuda se for uma delas. Mas, de modo geral, é necessário saber que amar – e ser amada – implica em uma certa dose de tristeza, temperada na maior parte do tempo por uma dose ainda maior de contentamento.
Poucas coisas são mais desgastantes para um relacionamento do que aquelas discussões intermináveis que não levam a lugar algum. Desentendimentos eventuais são normais, e é praticamente impossível passar sem eles, mas é preciso saber encerrá-los no momento certo.
E qual seria esse momento? O exato instante em que você notar que, mesmo que passem as duas horas seguintes discutindo acerca desse mesmo assunto, não chegarão a nenhum consenso.
Você pode então perguntar o que fazer a respeito do tema que causou o tumulto. Há duas opções diferentes – se o motivo foi tolo e desprovido de importância, é melhor esquecê-lo. E, se se trata de algo importante para os dois, ou para um dos dois, esperem até a raiva passar e voltem a enfrentar a questão mais tarde, quando estiverem mais calmos e propensos a sustentar seus argumentos sem se alterar em demasia.
Um velho escritor cubano costumava dizer que existe um tempo para iniciar um romance e existe um tempo para terminá-lo: “Errar no tempo para terminar é pior do que errar no tempo para começar”, diz. “Num caso, logo compensamos as alegrias ainda não gozadas. No outro, é irreparável a dor que advém do prolongamento do que deveria ter sido encerrado lá atrás“.
Não há nada mais comum do que prolongarmos o nosso sofrimento, quaisquer que sejam os nossos motivos – inércia, temor, esperança. E, uma vez que isso resultará somente em uma quantidade demasiadamente alta de dor e de agonia, é imprescindível aprendermos a romper um romance no momento em que a continuação deste se torna insuportável.
“O fim, em geral, é claro”, diria o escritor cubano. “Onde havia compreensão e tolerância, ergue-se a impaciência. Onde havia ternura, ergue-se uma crescente indelicadeza. Onde havia disposição para dividir, ergue-se o egoísmo. O que foi amor virou desamor”.
Não existe nada mais estúpido – e é uma ideia absurdamente comum – do que supôr que as pessoas com quem nos relacionamos são nossas propriedades, nossas “conquistas em termos definitivos”.
Se você pensa dessa maneira, livre-se dessa ideia imediatamente. Ninguém nos pertence, e cabe a nós conquistar dia após dia aqueles a quem prezamos.
A própria fidelidade, que costumamos encarar como um dever ou uma obrigação, deveria ser vista meramente como uma consequência natural do amor que se tem. Ou, como diria Nelson Rodrigues: “Cada cidadão, ou cidadã, pensa que a fidelidade é um dom nado, ou uma virtude que nasce com a pessoa e que morre com ela […] Todo mundo exige fidelidade e quase ninguém cogita de merecê-la”.
Portanto, procure merecer a fidelidade que deseja inspirar. No amor não se exige nem se toma, mas se conquista.
Quando eu era mais nova, costumava pensar que a sinceridade não era algo essencial em um relacionamento – desejável, talvez, mas totalmente dispensável.
Eu estava enganada, e vou te dizer o motivo.
Um único engano, contanto que seja sério (mentirinhas leves, por mais tolas que sejam, não são exatamente fatais, e é até recomendável lançar um “Como você emagreceu!” de tempos em tempos), é o suficiente para causar um enorme estrago na confiança e no respeito que devem se estabelecer entre um casal.
Se a sua mentira for descoberta, você passará por uma situação embaraçosa, e ocasionará um dano terrível ao seu relacionamento. E, ainda que ninguém fique sabendo de nada, o seu próprio conhecimento dos fatos fará com que se sinta culpada e preocupada.
Uma última dica: é relativamente comum enganarmos uma pessoa pensando no seu bem (ou tentarmos convencer a nós mesmos que estamos pensando no seu bem). Eu vejo isso como um equívoco. Salvo em raríssimos casos, a verdade é sempre a melhor opção.
Quando nos sentimos aborrecidos com alguém, é normal decidirmos alienar essa pessoa.
Mas seguir o caminho comum nem sempre é a melhor opção – na verdade, é até raro que o seja –, e nesse caso definitivamente não o é.
Mesmo as pessoas a quem amamos dizem ou fazem coisas que nos magoam e nos ferem. Alguns diriam que elas o fazem ainda mais do que as pessoas por quem sentimos apenas indiferença, pelo mero fato de que nós nos importamos com o que fazem e pensam.
E o que fazer? Agir como se nada tivesse acontecido? Péssima ideia. Deixar claro que algo de errado ocorreu, mas recusar-se a oferecer explicações, limitando-se a evitar, a ignorar ou a tratar com brusquidão a ofensor ou a ofensora? Ainda pior!
Nós acabamos de destacar a importância da sinceridade, e essa regra continua a valer.
Vou dar um exemplo. Uma amiga minha passou uma semana em desespero, uma vez que o namorado decidira ignorá-la friamente por algum motivo desconhecido. Ela não sabia o que ocasionara aquela reação.
Dias depois, ele finalmente se deu ao trabalho de explicar o que ocorrera: ele se ofendera com algumas palavras por ela pronunciadas em uma festa. Era um motivo justo, e minha amiga logo reconheceu que agira de maneira descuidada – mas, se ele não tivesse dito o que o incomodara, era improvável que ela, que não tivera em momento algum a intenção de magoá-lo, descobrisse qual o erro que cometera.
Não haja dessa maneira.
Ninguém lê o seu coração – trata-se de uma frase horrivelmente clichê, mas legítima. Por que o namorado da minha amiga esperou uma semana para se explicar? Porque desejava puni-la, ainda que inconscientemente?
Não sei, nem tenho como saber. Eu também não leio o coração dele, não é mesmo?
Eu estaria sendo uma perfeita idiota caso sugerisse que não aceitasse de maneira alguma interferências externas. Mas eu estaria sendo duplamente estúpida se dissesse que ouvir o que todo mundo tem a dizer a respeito de seu relacionamento é uma boa ideia.
No que diz respeito às sugestões lançadas por seus parentes, amigos e rivais, aceite-as só de vez em quando – e com muita cautela.
A princípio, ninguém sabe melhor do que você quais são os seus objetivos e os meios que pretende utilizar para alcançá-los. Não permita que as suas resoluções sejam alteradas e colocadas em dúvida a cada momento por qualquer pessoa.
Até onde nós sabemos, ninguém possui a capacidade de prever o futuro. Se alguém disser a você que tem certeza absoluta que você será infeliz com determinada pessoa, medite de maneira cuidadosa sobre a questão. Afinal, essa pessoa não é um profeta nem uma profetisa, e não é improvável que ela esteja enganada.
A sua vida amorosa vai agradecer.
Tanto quanto a ficção é cheia de exemplos de pessoas que alteraram sua personalidade e suas tendências naturais por amor, a vida real deles carece.
Não coloque suas apostas em alguém que você não suportaria do jeito que é. Não pense que fará com que essa pessoa mude. Nós influenciamos uns aos outros, mas é muito raro que tenhamos a capacidade de levar outro ser humano a realizar uma completa revolução em sua vida.
E, por um lado, isso é bom. Se a pessoa que você ama mudar demais, você provavelmente não vai nem reconhecê-la direito, mesmo que a mudança seja positiva.
Enquanto traço essas linhas, uma vozinha grita na minha consciência: “Como você é fútil e superficial!”
Mas vou me esforçar para silenciar essa voz, e eis o motivo: a beleza, querendo ou não, é um atributo importante. A boa notícia? Algumas pessoas simplesmente nascem bonitas, ao passo que outras tornam-se belas através de seu esforço e de sua determinação. E sejamos sinceros – até mesmo as pessoas dotadas de uma alta dose de beleza natural são obrigadas a trabalhar duro para mantê-la e aperfeiçoá-la.
Portanto, zele pelos seus atributos físicos. Isso fará bem para a sua autoestima, tornando-a mais confiante, e para a sua saúde.
Você foi dotada pela natureza com um rosto e um corpo maravilhosos? Continua a tratá-los com imenso cuidado, e não se esqueça da enorme sabedoria contida nessa citação da estilista francesa Coco Chanel: “A natureza lhe dá o rosto que você tem aos vinte, a vida formata o rosto que você tem aos trinta e, ao chegar aos cinquenta anos, você tem o rosto que merece“.
Nós não temos o direito de reivindicar a posse de um ser humano, e é inaceitável que os outros reivindiquem a nossa posse. Algumas pessoas afirmam que o ciúme indica o amor, mas não me parece que assim seja. É mais provável que indique insegurança.
Ciúmes moderados são aceitáveis e, em determinados casos, chegam a ser estimulantes. Mas tome muito cuidado – no momento em que estes se tornam incontroláveis e começam a provocar inúmeras discussões e desentendimentos, é sinal de que algo não está dando certo.
Procure não agir como se o seu companheiro ou a sua companheira pertencesse a você. Aceite que esta pessoa possui uma vida própria. E, se você por acaso for uma pessoa ciumenta por natureza, o segredo é dar vazão aos seus ciúmes do modo menos agressivo possível. Faça com que eles pareçam um lisonjeio, e não uma acusação.
Os pequenos subornos aos quais nos referimos foram definidos por Nelson Rodrigues como “gentilezas de escasso valor material, e que produzem um resultado tremendo”.
São pequenos gestos, pequenas ações que são capazes de sustentar um relacionamento e torná-lo agradável, delicado e harmonioso. Eles suscitam sentimentos de gratidão e de ternura, e estes são extremamente úteis.
Quer um exemplo?
Lembro-me de uma amiga que sentiu-se maravilhada na ocasião em que, estando prestes a acompanhar uma procissão com sua avó, encontrou-se com um amigo na praça em que os membros da igreja reuniam-se. O amigo olhou-a atentamente e sumiu, voltando cerca de dez minutos depois com um casaco. Ele fora buscá-lo, porque acreditava que faria frio e ela estava desagasalhada. E ela, que sentiu o coração bater mais forte naquele instante, não hesitou em aceitá-lo quando ele se declarou na semana seguinte…
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