Vamos falar sobre Simone de Beauvoir?
Simone de Beauvoir foi uma das principais feministas de todos os tempos. Estando o feminismo em voga, podemos dizer que esse consiste em um tema de suma importância – e aqui estamos.
Os trechos abaixo foram, em sua grande maioria, retirados das obras O Segundo Sexo, Os Mandarins, A Mulher Destruída e Por Uma Moral da Ambiguidade.
Através da sua obra e de sua militância, Madame de Beauvoir, a senhora não deixou de defender os direitos da população feminina. O mundo em que nós vivemos lhe parece excessivamente machista?
Vivemos num mundo patriarcal, e nenhuma das razões que me foram apresentadas para isso parecem-me adequadas. O único modo que nós, mulheres, temos de lidar com essa pretensa inferioridade feminina é a partir da desconstrução da superioridade masculina. Antes de mais nada é necessário que saibamos que nós não nascemos mulheres, nós nos tornamos mulheres.
Diante disso, qual deve ser o nosso objetivo?
A conquista da liberdade para fazer o que bem entendermos com a nossa vida. Que nada nos sujeite. Que nada nos defina. Que a liberdade seja nossa própria substância.
Quando uma mulher assume uma postura considerada “masculina”, é usual que seja severamente criticada. A senhora acha que essa situação poderá ser revertida um dia?
Alguns definem os homens como seres humanos e as mulheres como fêmeas, e portanto toda vez que uma mulher age como um ser humano acusam-na de estar tentando imitar os homens. Dizem que é um mal da época em que vivemos, e que isso mudará no futuro. Mas eu não quero esperar para ver. Mude sua vida hoje. Não aposte no futuro, aja agora, sem atraso. O fato de que todos somos seres humanos é mais importante do que todas as peculiaridades que diferenciam uma pessoa da outra.
E quanto à sua personalidade? A senhora diria que, apesar de suas intensas convicções, foi uma pessoa de fácil convivência?
Sou terrivelmente gananciosa. Quero tudo da vida. Desejo ser uma mulher e um homem, ter muitos amigos e momentos de solidão, trabalhar e escrever bons livros, viajar mundo afora e divertir-me, ser egoísta e altruísta alternadamente…
A senhora foi uma escritora talentosa. Desejava escrever desde pequena?
Quando eu era criança, e mesmo quando eu já era adolescente, os livros me salvaram do desespero, e isso serviu para me convencer de que a cultura é o maior dos valores.
Qual o maior privilégio de seguir a profissão de escritora?
No papel, você pode dizer exatamente o que está sentindo. É muito fácil quebrar objetos nas páginas de um livro. Você odeia, você grita, você mata, você comete suicídio – enfim, você leva tudo até o fim. E é por isso que é apenas uma farsa. Mas é uma farsa satisfatória. Na vida, estamos constantemente negando a nós mesmos e os outros contrariam-nos com frequência. É por isso que considero a escrita uma ocupação encantadora. No papel, posso fazer com que o tempo pare e impôr as minhas convicções para o mundo inteiro – elas se tornam a única realidade.
A senhora acredita que, para uma mulher ser de fato emancipada, é preciso que recuse a ideia do amor?
Estou mais disposta a negar a existência do espaço e do tempo do que admitir que o amor pode não ser eterno.
Seria a homossexualidade menos limitada do que a heterossexualidade?
Em si, a homossexualidade é tão limitada quanto a heterossexualidade – o ideal é sermos capazes de amar um homem ou uma mulher sem sentirmos medo, repressão ou obrigação. O ideal do amor e da verdadeira generosidade é dar tudo de si, mas sempre sentir como se isso não houvesse lhe custado nada.
Alguma consideração final?
Lembre-se sempre que são pouquíssimos os crimes que recebem um castigo pior do que o seguinte erro: colocar-se inteiramente nas mãos do outro e, por isso, ficar à mercê dele.
O que você pensa?